quarta-feira, janeiro 21, 2004

O músico cego

" E de novo os sons aumentavam, firmavam-se e, como se buscassem qualquer coisa, subiam sempre, em toda a sua plenitude, sempre mais alto, sempre mais forte. Nos intervalos dos acordes resvalavam fragmentos de canções populares, impregnadas, umas vezes de amor e de tristeza, outras vezes de saudades dolorosas e de glória, ou cheias de bravura, de fé e de esperança. Era assim que o músico cego procurava dar aos sentimentos formas familiares e conhecidas."

Um dos melhores livros que li até hoje chama-se "O Músico cego" e quem o escreveu foi Vladimiro Korolenko (1853-1921). Absolutamente fantástico, este livro capaz de descrever as cores com uma precisão de nos tirar o folego. É preciso muita coragem para escrever um livro da forma como ele o fez.

“ (...) Tu sabes tão bem como eu o que significa o «repique vermelho» (...) e abriu rapidamente o piano.
Com mão segura bateu as teclas, imitando o toque majestoso dos sinos. A ilusão era absoluta. Um acorde de algumas sonoridades médias compunha uma espécie de fundo, sobre o qual se destacavam, alegres e saltitantes, notas mais claras e mais rápidas do registo superior. Em suma, era justamente esse canto alto, alegre e excitante que inundava ordinariamente com ar de festa. (...) Isso assemelha-se muito, e nós, os que vemos, não poderiamos nunca compreender melhor que tu essa parecença. (...) Quando olho uma grande superficie vermelha, ela produz na minha vista a mesma impressão inquietante que uma coisa que fosse rigida e vacilante ao mesmo tempo. (...)"


Mais palavras pra quê?