O tempo, tudo muda!

Os alunos estão a fazer teste!
O primeiro das suas vidas académicas - Introdução ao Direito.

Também foi a minha primeira frequência quando entrei para a faculdade.
Vejo as suas cabeças pensativas, algumas aéreas e recordo-me da minha experiência quando “calçava os sapatos deles”.
O tempo previsto para a realização da frequência era de três horas.
Recordo-me dum nervosismo miúdinho, de um aperto no estomago, de um nó na garganta, enquanto aguardava à porta da sala.
Recordo-me ainda das perguntas que faziamos entre colegas: e isto, o que é? E puseste anotações no teu código civil? Sentas-te ao meu lado, em caso de dúvidas ajudas-me, ok?
Entretanto, silenciáva-mo-nos à passagem daqueles que eram os inimigos – os professores.

E eles pioravam tudo, faziam cara de maus, engravatados para impôr respeito. E metiam medo efectivamente.
Recordo-me que nesta frequência, sentei-me mesmo em frente ao professor, assim determinavam as regras da organização nominal; ao meu lado, aquele colega giro por quem tinha um fraco. Mais nervosa fiquei.
De repente, o professor pergunta-me se lhe posso emprestar por instantes o código civil, começo a enervar-me mais questionando-me internamente se as minhas anotações, não serão tomadas por cábulas e o teste ali mesmo sumariamente anulado. Ingenuidade minha – remissões e glosas nunca fizeram mal a nenhum estudante de Direito.
O colega por quem tinha o tal fraco também não levara o código civil para o teste. Esse facto, a descontração dele, ou irresponsabilidade, fizeram tripicar a minha paixoneta e em menos de nada estava perdida por ele. Naturalmente que também ele fez uso do meu código.
Mas o que mais recordo, dessa frequência, é que levei duas horas a não fazer nada. Perdida em pensamentos, sobre como o tempo tinha passado e como já estava na faculdade e como nas vésperas estava a ser praxada; e agora estava ali, a tentar resolver uma frequência que iria ditar o meu futuro.
Nessa altura, nem sequer pensava que eu um dia, não tão longe quanto isso, viria a ser a “inimiga”, que entraria toda “engravatada” numa sala onde expectantes estariam dezenas de alunos para realizar uma prova que lhes vai condicionar a vida.
É claro que o engravatada é exagero: estou de calças de ganga, ténis, um largo sorriso e cumprimentos-os com um bem disposto: “Olá, olá bom dia!!! Tudo bem convosco?”, ao que me respondem sorridentes: “Bom dia! Vamos ver, professora, vai depender do teste que nos trouxe!”
E agora, enquanto eles fazem o teste em 90 minutos, eu fi-lo em 15, e ainda escrevo este post, a meio do esclarecimento de dúvidas.
O tempo, tudo muda!