quinta-feira, dezembro 18, 2003

E por falar em cães perdidos...

Foi no Inverno. Não chovia torrencialmente, mas estava um tempo pesado, cinzento. A humidade fazia-se sentir pesadamente e uma neblina cobria o universo... que exagero, digamos que estava tão mau tempo que só faltavam mesmo essas grossas gotas de água que caem ruidosas e geladas, naquele local junto á praia.
Junto á praia?
Mas... se estava tão mau tempo para quê a praia? Não se vai só à praia no Verão?
Pois é, Eu sou daquelas pessoas que sentem um enorme prazer em ir à praia no Inverno, apenas para ver o mar revolto, eclodir à sua frente. E nesse dia, essa imensidão de água, parecia efectivamente furiosa com a terra, a avaliar pela forma com que rebentava naquele aglomerado e aconchegado mundo de areia.
Tomada por um impulso infantil, desato a correr até essa linha, como que querendo proteger as pequenas particulas dessa invencivel força, e de súbito, sou obrigada a parar.
Nesse instante, sou dominada pelo terror, pelo pavor, pela inércia dos que não sabem como agir, e paralizo!
A correr para mim, vem uma matilha de cães, ladrando e eles também, e digo eu, assustados, procurando defender o seu território.
Sinto-me estremecer, começo a tremer e permaneço sem acção até que, pé ante pé, recomeço a andar no sentido inverso. Nesse momento já os cães estão á minha beira, e devo dizer que o maior deles dava-me pela altura do peito, ao passo que os mais pequenos pulavam á volta das minhas pernas. As lágrimas correram-me pela face, do susto, do pavor, do sufoco que senti. Não corri. Não podia demonstrar medo, mas se pudesse, teria voado!
Tudo terminou pelo melhor, presumo que tenham perdido o interesse, ou então, eu saí das demarcações por eles feitas, quem sabe?
Só sei que após esses 3 minutos que pareceram uma eternidade, chorava e ria simultaneamente, do pânico que senti, do alivio que se seguiu...